Durante todo o período colonial as diversões que aconteciam na cidade do Rio de Janeiro durante o carnaval não diferiam daqueles presentes em outros centros urbanos brasileiros. Toda uma série de brincadeiras reunidas sob o termo Entrudo podiam ser encontradas nas ruas e nas casas senhoriais da cidade. No final do século XVIII, essas diversões consistiam basicamente no Após aIndependência do Brasil, a elite carioca decide se afastar do passado lusitano e incrementar a aproximação com as novas potências capitalistas. A cidade e a cultura parisienses serão os parâmetros a guiar as modas e modos a serem importados.
Os bailes
O carnaval da capital francesa será um dos elementos de influência, fazendo com que a folia do Rio de Janeiro rapidamente apresente bailes mascarados aos moldes parisienses.
Inicialmente promovidos ou incentivados pelas Sociedades Dançantes que existiam na cidade (como a Constante Polka, por exemplo) esses bailes acabariam por ser suplantados pelos bailes públicos, como o famoso baile público do Teatro São Januário promovido por Clara Delmastro.
Os passeios
O grande sucesso dos bailes acabaria por incentivar outras formas de diversão, como os passeios ou promenades aos moldes do então já quase extinto carnaval romano. A idéia de se deslocar para os bailes em carruagens abertas seduzia a burguesia, que via, aí, uma oportunidade de exibir suas ricas fantasias ao povo e "civilizar" o carnaval de feição 'entruda'.
O povo carioca assistia deslumbrado a esses cortejos sem, entretanto, se furtar a saudar com seus limões de cheiro os elegantes mascarados. A tensão decorrente desse embate carnavalesco faria com que a elite procurasse organizar cada vez mais seus passeios através da reunião de uma grande número de carruagens e da presença ostensiva de policiamento incorporado aos desfiles.
Aos poucos essas promenades acabariam por adquirir uma certa independência em relação aos bailes até que, em 1855, um grupo de cidadãos notáveis organizaria aquele que ficou conhecido como o primeiro passeio de uma sociedade carnavalesca por uma cidade brasileira: o desfile do Congresso das Sumidades Carnavalescas.
O sucesso desse evento abriria as portas para o surgimento de dezenas de sociedades carnavalescas que, em poucos anos, já disputariam entre si o exíguo espaço do centro da cidade durante os dias de carnaval.
Entretanto, o fabuloso carnaval proposto pela burguesia não reinaria sozinho nas ruas do Rio de Janeiro. Paralelamente ao movimento de implantação de uma festa civilizada, outras diversões tomavam forma na cidade. O entrudo, com sua alegria desorganizada e espontânea não era a única diversão carnavalesca popular. Muitos grupos negros de Congadas (ou Congos) e Cucumbisaproveitavam-se da relativa liberalidade reinante para conseguir autorização policial para se apresentarem. Além disso, outros grupos, reunindo a população carente de negros libertos e pequenos comerciantes portugueses (mais tarde conhecidos como Zé Pereiras), sentiram-se incentivados a passear pelas ruas.
O carnaval carioca
A mistura desses diferentes grupos acabaria por forçar uma espécie de diálogo entre eles. Em pouco tempo as influências mútuas se fazem notar através da adoção pelo carnaval popular, das fantasias e da organização características da folia burguesa. As sociedades carnavalescas por sua vez, passaram a incorporar boa parte dos ritmos e sonoridades típicos das brincadeiras populares.
O resultado de tudo isso é que as ruas do Rio de Janeiro veriam surgir toda uma variedade de grupos, representando todos os tipos de interinfluências possíveis. É essa multiplicidade de formas carnavalescas, essa liberdade organizacional dos grupos que faria surgir uma identidade própria ao carnaval carioca. Uma identidade forjada nas ruas, entre diálogos e tensões.
Essa forma de classificação perduraria até os anos 1930, quando o prefeito/interventor do Rio de Janeiro, Pedro Ernesto, oficializaria a festa carioca. A partir daí, os concursos promovidos pelos jornais, os textos jornalísticos publicados na imprensa e as obras dos primeiros folcloristas acabariam por separar as brincadeiras populares em categorias estanques, cada qual com uma história e um formato próprios, tais como blocos, ranchos, cordões, Zé Pereiras,corso e sociedades. Coroando esse movimento é publicado, em 1958 o livro História do carnaval carioca, da pesquisadora Eneida de Moraes que estabelece o texto fundador da folia carioca, e, por extensão, brasileira.
As escolas de samba
No final dos anos 1920 o Brasil buscava criar uma identidade capaz de diferenciá-lo dentro da nova ordem mundial estabelecida após a Primeira Grande Guerra. O conceito de negritude se destacava mundialmente valorizando as produções culturais negras como a Arte africana e o jazz. A festa carnavalesca e o novo ritmo de base negra recém surgido, o samba, seriam as bases para a formulação de um sentido de brasilidade. A valorização do samba e da negritude acabariam aumentando o interesse da intelectualidade nos novos "grupos de samba" que surgiam nos morros cariocas. Esse grupos passaria a se apresentar "no asfalto", ou seja, longe dos guetos dos morros, sendo chamados de escolas de samba.
Tratados, inicialmente, como uma espécie de curiosidade "folclórica", esses grupos foram, pouco a pouco, cativando a sociedade carioca com seu ritmo marcado, com a sonoridade inesperada de suas cabrochas e com os temas populares de suas letras.
Mantidas por décadas como elementos secundário da folia carnavalesca carioca, as escolas de samba adquiririam grande proeminência a partir da década de 1950, com a incorporação da classe média aos desfiles, consequência da aproximação entre as escolas e intelectuais de esquerda. A partir daí elas galgariam os degraus do sucesso até se tornarem o grande evento carnavalesco nacional.
Ano | Escola campeã | Enredo | Carnavalesco |
---|---|---|---|
1932 | Mangueira | Sorrindo | |
1933 | Mangueira | Uma Segunda-feira no Bonfim da Bahia | |
1934 | Mangueira[1] | República da Orgia[2] | |
Recreio de Ramos | |||
1935 | Vai Como Pode (Atual Portela) | O samba dominando o mundo | Antônio Caetano |
1936 | Unidos da Tijuca | Sonhos delirantes | |
1937 | Vizinha Faladeira | A Origem do Samba | |
1938 | Houve desfile mas a apuração não foi realizada | ||
1939 | Portela | Teste ao Samba | Paulo da Portela |
1940 | Mangueira | Prantos, Pretos e Poetas | |
1941 | Portela | Dez Anos de Glória | Paulo da Portela e Lino Manoel dos Reis |
1942 | Portela | A Vida do Samba | Lino Manoel dos Reis |
1943 | Portela | Brasil, Terra da Liberdade | Liga de Defesa Nacional |
1944 | Portela | Motivos Patrióticos | Liga de Defesa Nacional |
1945 | Portela | Brasil Glorioso | Liga de Defesa Nacional |
1946 | Portela | Alvorada do Novo Mundo | Lino Manoel dos Reis |
1947 | Portela | Honra ao Mérito | Euzébio e Lino Manoel dos Reis |
1948 | Império Serrano | Antônio Castro Alves | |
1949 | Império Serrano (pela FBES) | Exaltação à Tiradentes | |
Mangueira (pela UGESB) | Apologia ao Mestre | ||
1950 | Império Serrano (pela FBES) | Batalha Naval do Riachuelo | |
Mangueira (pela UCES) | Plano SALTE - Saúde, Alimentação, Transporte e Energia | ||
Prazer da Serrinha (pela UGESB) | |||
Unidos da Capela (pela UGESB) | |||
1951 | Império Serrano (pela FBES) | Sessenta e Um Anos de República | |
Portela (pela UGESB) | A Volta do Filho Pródigo | Lino Manoel dos Reis | |
1952 | Houve desfile mas a apuração não foi realizada | ||
1953 | Portela | As Seis Datas Magnas | Lino Manoel dos Reis |
1954 | Mangueira | Rio de Janeiro de Ontem e Hoje | |
1955 | Império Serrano | Exaltação a Duque de Caxias | |
1956 | Império Serrano | O Caçador de Esmeraldas | |
1957 | Portela | Legados de D. João VI | Djalma Vogue, Candeia e Joacir |
1958 | Portela | Vultos e Efemérides do Brasil | Djalma Vogue |
1959 | Portela | Brasil, Panteon de Glórias | Djalma Vogue |
1960[3] | Portela | Rio, a Capital Eterna | Djalma Vogue |
Mangueira | Glória ao Samba | ||
Salgueiro | Quilombo dos Palmares | Fernando Pamplona | |
Unidos da Capela | Produtos e Costumes da Nossa Terra | ||
Império Serrano | Medalhas e Brasões | ||
1961 | Mangueira | Recordações do Rio Antigo | |
1962 | Portela | Rugendas: Viagens pitorescas através do Brasil | Nelson de Andrade |
1963 | Salgueiro | Chica da Silva | Arlindo Rodrigues |
1964 | Portela | O Segundo Casamento de D. Pedro I | Nelson de Andrade |
1965 | Salgueiro | História do Carnaval Carioca | Fernando Pamplona |
1966 | Portela | Memórias de um Sargento de Milícias | Nelson de Andrade |
1967 | Mangueira | O mundo encantado de Monteiro Lobato | |
1968 | Mangueira | Samba, festa de um povo | |
1969 | Salgueiro | Bahia de Todos os Deuses | Fernando Pamplona |
1970 | Portela | Lendas e Mistérios da Amazônia | Clóvis Bornay |
1971 | Salgueiro | Festa Para um Rei Negro | Fernando Pamplona |
1972 | Império Serrano | Alô, alô, taí Carmem Miranda | Fernando Pinto |
1973 | Mangueira | Lendas do Abaeté | Júlio Mattos |
1974 | Salgueiro | O Rei de França na Ilha da Assombração | Joãosinho Trinta |
1975 | Salgueiro | O Segredo das Minas do Rei Salomão | Joãosinho Trinta |
1976 | Beija-Flor | Sonhar com Rei dá Leão | Joãosinho Trinta |
1977 | Beija-Flor | Vovó e o Rei da Saturnália na Corte Egípciana | Joãosinho Trinta |
1978 | Beija-Flor | A criação do mundo na tradição nagô | Joãosinho Trinta |
1979 | Mocidade | O Descobrimento do Brasil | Arlindo Rodrigues |
1980 | Imperatriz | O que que a Bahia tem? | Arlindo Rodrigues |
Beija-Flor | O Sol da Meia-noite, uma viagem ao país das maravilhas | Joãosinho Trinta | |
Portela | Hoje tem Marmelada! | Viriato Ferreira | |
1981 | Imperatriz | O teu cabelo não nega (Só dá Lalá) | Arlindo Rodrigues |
1982 | Império Serrano | Bum Bum Paticumbum Prugurundum | Rosa Magalhães e Lícia Lacerda |
1983 | Beija-Flor | A grande constelação das estrelas negras | Joãosinho Trinta |
1984 | Mangueira[4] | Yes, nós temos Braguinha | Max Lopes |
Portela | Contos de Areia | Edmundo Braga e Paulio Espírito Santo | |
1985 | Mocidade | Ziriguidum 2001 - Carnaval nas estrelas | Fernando Pinto |
1986 | Mangueira | Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm | Júlio Mattos |
1987 | Mangueira | O Reino das Palavras, Carlos Drummond de Andrade | Júlio Mattos |
1988 | Vila Isabel | Kizomba, a festa da raça | Comissão de Carnaval[5] |
1989 | Imperatriz | Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós! | Max Lopes |
1990 | Mocidade | Vira, virou, a Mocidade chegou | Renato Lage e Lilian Rabelo |
1991 | Mocidade | Chue... Chuá... As águas vão rolar | Renato Lage e Lilian Rabelo |
1992 | Estácio de Sá | Paulicéia Desvairada - 70 anos de Modernismo | Mário Monteiro e Chico Spinoza |
1993 | Salgueiro | Peguei um Ita no Norte | Mário Borrielo |
1994 | Imperatriz | Catarina de Médicis na corte dos Tupinambôs e dos Tabajéres | Rosa Magalhães |
1995 | Imperatriz | Mais vale um jegue que me carregue que um camelo que me derrube, lá no Ceará | Rosa Magalhães |
1996 | Mocidade | Criador e Criatura | Renato Lage |
1997 | Viradouro | Trevas! Luz! A explosão do Universo | Joãosinho Trinta |
1998 | Mangueira | Chico Buarque da Mangueira | Alexandre Louzada |
Beija-Flor | Pará – O mundo místico dos Caruanas nas águas do Patu-anu | Comissão de Carnaval[6] | |
1999 | Imperatriz | Brasil, mostra a tua cara em 'Theatrum Rerum Naturalium Brasiliae' | Rosa Magalhães |
2000 | Imperatriz | Quem descobriu o Brasil foi Seu Cabral do dia 22 de abril, dois meses depois do Carnaval | Rosa Magalhães |
2001 | Imperatriz | Cana caiana, cana roxa, cana fita, cana preta, amarela, Pernambuco, quero vê descê o suco na pancada do ganzá | Rosa Magalhães |
2002 | Mangueira | Brasil com z é pra cabra da peste, Brasil com s é Nação do Nordeste | Max Lopes |
2003 | Beija-Flor | O povo conta a sua história: Saco vazio não para em pé – A mão que faz a guerra, faz a paz | Comissão de Carnaval[7] |
2004 | Beija-Flor | Manôa, Manaus, Amazônia, Terra Santa... Que alimenta o corpo, equilibra a alma e transmite a paz | Comissão de Carnaval[7] |
2005 | Beija-Flor | O vento corta as terras dos Pampas. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Guarani. Sete povos na fé e na dor... Sete missões de amor | Comissão de Carnaval[7] |
2006 | Vila Isabel | Soy loco por ti, América - A Vila canta a latinidade | Alexandre Louzada |
2007 | Beija-Flor | Áfricas: do Berço Real à Corte Brasiliana | Comissão de Carnaval[8] |
2008 | Beija-Flor | Macapabá: Equinócio Solar, Viagens Fantásticas no Meio do Mundo | Comissão de Carnaval |
2009 | Salgueiro | Tambor | Renato Lage |
2010 | Unidos da Tijuca | É segredo! | Paulo Barros |
2011 | Beija-Flor | A Simplicidade de Um Rei | Comissão de Carnaval |
Numero de títulos de cada escola
Campeãs Pós-Sambódromo
Total | Agremiação | Anos |
---|---|---|
7 | Beija-Flor | 1998, 2003, 2004, 2005, 2007 , 2008 e 2011 |
6 | Imperatriz Leopoldinense | 1989, 1994, 1995, 1999, 2000 e 2001 |
5 | Mangueira | 1984, 1986, 1987, 1998 e 2002 |
4 | Mocidade | 1985, 1990, 1991 e 1996 |
2 | Salgueiro | 1993 e 2009 |
Vila Isabel | 1988 e 2006 | |
1 | Portela | 1984 |
Unidos da Tijuca | 2010 | |
Viradouro | 1997 | |
Estácio de Sá | 1992 |
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